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sexta-feira, 25 de março de 2011

Criança e Consumo

Faz um tempinho que não venho aqui... Aconteceram MUITAS coisas nesses últimos dias que me impediram de postar. Coisas que contarei assim que possível.

Hoje vim falar sobre um evento que acabo de ir (sim, faltei na aula de Adm. de UANs...): "Criança, a Alma do Negócio – Um debate sobre o consumismo infantil e a importância do brincar”, promovido pelo Instituto Alana.

No início foi passado o excelente documentário "Criança, a alma do negócio", que já havia assistido porque o Instituto doou alguns materiais para o nosso CA e um deles foi esse DVD. O documentário aborda a publicidade voltada para crianças em diversos aspectos e a influência nos comportamentos, na saúde, na perda da infância...

Depois houve um debate com a coordenadora de Educação e Pesquisa do Projeto Criança e Consumo, Lais Fontenelle, a educadora Adriana Friedmann e o escritor Ilan Brenman.

A educadora Adriana focou na publicidade como criadora de desejos e fez um paralelo com o fato de estarmos num shopping, local em que há maior estímulo ao consumo, sendo possível identificar a representação de todos os sentimentos criados por essa necessidade de consumir  nas crianças. São desejos, pedidos, frustrações, alegrias, chiliques. Todas formas de pedir a atenção que não lhes é dada pelos pais. Formas de estabelecer alguma comunicação, a qual geralmente é ausente. Não se ouve as crianças e não ouvindo, torna-se impossível saber o que elas pensam, o que sentem, o que necessitam de fato.
Em outro momento, citou uma ação de um jornal famoso, que criou, pelo que entendi, concursos para que as crianças contassem as suas vidas, sem auxílios de ninguém. Surgiram diversas cartas com desejos bem diferentes dos materiais, como atenção dos pais, sentimentos pelos irmãos, etc.
No final de sua fala, abordou um pouco sobre o aumento do tempo que as crianças passam assistindo a televisão em 10min de 2008 a 2010, sendo atualmente cerca de 5:05h. Mais tempo do que o que elas passam na escola. E deixou uma questão: não tem como voltar atrás. As crianças de hoje convivem com a mídia o tempo todo. O que seria possível fazer para melhorar essa relação?
Vou deixar a questão aberta para pensar, por enquanto.

Sobre o Ilan. Gostei dele. Palestrantes que sabe prender o público e ele é bom de verdade, mas há ressalvas... No final.
A questão ampla dada a ele foi sobre o papel dos pais. Contou uma história sobre pais que formam filhos caçadores e pais que formam jardineiros: os primeiros estimulam a conquista pela disputa, sem "pudores"  e os segundos, pelo trabalho diária e paciente. Pensando que esses seriam os extremos, os pais de hoje formariam filhos mais voltados para o primeiro extremo.
Falou sobre a dificuldade de educar, pelos seres humanos serem "estranhos", querendo dizer inconstantes, mutáveis talvez, e, a partir disso, citou um filme em que havia a fala de um personagem que perguntava "Se a sua casa pegasse fogo e vc só pudesse escolher uma coisa para tirar, o que vc tiraria?" (fiquei pensando nisso e postei no Face..=p). Mas essa questão o fez pensar no que as crianças tirariam e ele resolveu pesquisar. Sabem quais foram as respostas? Não, não foram brinquedos, video-games, maquiagens.. Foram fotos, álbuns, alguém da família... O que mostrou que ainda há uma esperança, que ainda existem valores familiares e de vida... Mas, para isso, é necessário transformar e, para transformar, é necessário agir. Os pais devem ter bom senso em suas decisões, restringindo horários e programas que os filhos ficarão expostos à televisão, ao videogame.

A discussão teve foco nos aspectos educacionais, com alguns comentários mais amplos de pessoas que participaram do evento. Os discursos como um todo exaltaram a educação, como sendo a salvadora do mundo. Não sei se foi isso que eles quiseram dizer, mas foi a impressão que ficou. O debate foi bom, mas teve esse ponto que achei negativo. Aprendi no primeiro ano de faculdade que a educação não é a salvação :-p. São necessárias diversas outras ações para resolver os problemas existentes na sociedade. Posso referenciar o meu texto base sobre o assunto: "Educação como instrumento de mudança social", do Mário Cortella, que aborda exatamete essa questão. Fica dica de leitura.

Acho que tendo a mesma percepção que eu, um professor (talvez professor) que estava assistindo colocou  a questão de que se formos a fundo na relação consumo x criança ou consumo x qualquer pessoa, chegaremos à conclusão que o problema é o sistema em que vivemos e que as pessoas têm tanto medo de denominar. O sistema capitalista. Com ele, o consumo será eternamente estimulado e não importa quem irá sofrer as consequências. O lucro é o ator principal dessa peça. O combate ao sistema que mudará a situação.
Ai que digo que o Ilan, que foi tão bem durante todo o debate perdeu a admiração que eu comecei a ter. A resposta dele foi defendendo que as pessoas querem consumir, elas têm desejo de consumir. O problema é o entendimento de como consumir... Mas será que esses desejos são necessários? Precisamos ter ipods, ipads, televisores digitais X polegadas, trocarmos de celular todos os anos? Esses desejos são realmente nossos ou são instalados em nós? Não falo só de crianças.. até porque estímulo ao consumismo no caso de crianças não existe perdão. Essa discussão da regulação da publicidade infantil nem deveria existir de tão óbvia que é, ou melhor, que deveria ser. É falta de ética, de respeito aos direitos de alguém que não tem como se defender. Mas o lucro grita mais alto e o governo não tem capacidade de agir contra, de se sobrepor aos interesses econômicos... e o capitalismo não tem nada a ver com isso?... Entendo que esse é o sistema que vivemos e temos que lidar com ele da melhor forma, procurando alternativas possíveis dentro dele e lutando contra o que nos é imposto, de preferência, mas não dá para achar que somente a educação é suficiente. É importantíssima, mas não é suficiente.

Conheci uma pessoa interessante. Uma senhora que sentou ao meu lado e fez algumas críticas durante o debate. Ela foi embora sem eu conseguir nem perguntar o nome ou de onde era, mas ela aproveitou para divulgar um ato que acontecerá dia 7/04 (Dia Mundial da Saúde) às 10h, em frente ao MASP, contra as privatizações e leitos hospitalares. Queria ter falado mais com ela, mas a pessoa sumiu quando fui assinar o abaixo-assinado. De qualquer forma, ato divulgado! Quem puder estar lá... ;-)